Self Portrait
Monday, 30 December 2013
Saturday, 28 December 2013
Desesperada, rasgou as vestes e gemeu horas a fio, escondida entre os fios de chuva que teciam a tempestade. Nada tinha forma, e tudo se confundia numa grande mancha cinzenta. À sua frente, um abismo nebuloso chamado caos. Sozinha, com um pé em terra e outro no vazio, lamentou a crueldade do destino. Canções de guerra ecoavam na sua mente. Ela cantava-as. Mas cantava-as tão baixo, que não era possível ouvir-se a si própria.
Friday, 27 December 2013
Thursday, 26 December 2013
Sunday, 22 December 2013
Saturday, 21 December 2013
Sunday, 15 December 2013
Saturday, 14 December 2013
Sonambular
Usava dezassete anéis nos dedos. Tal como as árvores, saberíamos a sua idade se contássemos cada um dos seus círculos tão cuidadosamente delineados.
Não olhava ninguém nos olhos, não precisava. Invadia mentes. A perturbação que era capaz de causar agradava-lhe, e alimentava-se dela avidamente. Gostava realmente de sentir a tontura da dor, as almas inocentes a quebrarem a sua essência, o corroer das entranhas.
Eram atos preversos, mas sinceros. Sei-o porque a vi agir por instinto - a rapariga dos dezassete anéis. Não temos culpa do caminho que seguem os nossos instintos. Podemos tentar ir contra eles, é certo, isto se estivermos conscientes. Mas ela não - a minha musa - ela dormia. Nem todos os que vagueiam de olhos abertos estão acordados.
Sigo-a por caminhos cinzentos até nos encontrarmos sozinhos. Não tinha pressa. Não sente a minha presença atrás dela, nas sombras, nem me invade a alma. Conheço o segredo dela, contaram-me os ventos. Não faria sentido apoderar-se da minha mente, não encontraria mais que o seu reflexo - os meus pensamentos são o seu espelho, e respiro-a nos contratempos. De certa forma também me possui. Não saberia viver sem a sua presença. Estou obcecado, sei o segredo e continuo sem medo. E não é coragem. Não sei o que é.
Sem mexer um músculo, aguardo no escuro. O sol põe-se e ela começa, lentamente, a acordar. Sei o que se segue. Avança, calmamente, em direção à floresta. As pernas já não são pernas e do cabelo caem folhas e crescem ramos. Avança. Mistura-se nos tons quentes. Avança, avança... e pára, por fim, voltando a adormecer. A transformação termina. Minha musa, de raízes, nasce árvore. E eu encosto-me ao tronco, embalado pela brisa.
"Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso."
Fora chamada pelo livro e, por alguma razão, deparara-se com esta página marcada. Leu este poema e mais alguns, até o "Tábua" - que não dizia nada. Ou então dizia tudo. Uma página em branco pode ser tudo, pode ser nada. Mas tinha nome. Não podia ser só nada. "Só" não. "Só" é muito. "Só" não é nada.
Descobriu assim uma maneira de comunicarem, quebrarem o véu que os separava. Podia, por fim, senti-lo. Todas as barreiras têm falhas, mesmo as invisíveis. Continuava a não estar lá, mas era como se estivesse. Ele, o Só.
Descobriu assim uma maneira de comunicarem, quebrarem o véu que os separava. Podia, por fim, senti-lo. Todas as barreiras têm falhas, mesmo as invisíveis. Continuava a não estar lá, mas era como se estivesse. Ele, o Só.
Friday, 13 December 2013
Monday, 9 December 2013
Sunday, 8 December 2013
Dormira com a concha o tempo todo, entre os lençóis, sem se magoar, sem sequer sentir. Dormiu bem e teve sonhos suaves, feitos de relva e areia ao fim da tarde. Sonhos mornos. Foi quando descobriu que era sereia. Eternamente ligada e atraída pelo mar, com nada mais que água a correr nas veias, azuis.
Saturday, 7 December 2013
Thursday, 5 December 2013
Wednesday, 4 December 2013
A velha que morava na casa em frente olhava-o, por entre as velhas e gastas cortinas de renda brancas, fingindo não estar a ver. Na sua mente, atirava-lhe constantemente pedras ao vidro, para a afugentar. Não se importava com o que os outros pensavam dele, mas o olhar daquela mulher perturbava-o particularmente.
No topo da garagem, havia horas que observava a passagem dos moradores e visitantes pela rua. A maioria não reparava nele, e os que reparavam, rapidamente desviavam a cara quando os olhares se cruzavam. Comportamentos estranhos não eram admitidos naquela aldeia, mesmo vindos de uma criança. Falar sozinho era mau, se brincava com pessoas imaginárias devia, certamente, estar para morrer.
Guardou os binóculos ferrugentos na mochila - estava farto da monotonia daquele lugar. Conhecia cada falha dos muros e cada ramo das árvores. A hora exata a que passava o carteiro e como este se atrasava sempre às segundas de manhã. (...)
Tuesday, 3 December 2013
As pálpebras pesam outra vez. Bebe café. Não ajuda. As pálpebras pesam. Bebe mais. Não. Pesam. As pálpebras. As pálpebras pesam outra vez. Fecha os olhos. Sabe tão bem... Pesam. Não pesam. As pálpebras assim não pesam. Sabe bem estar assim. Queria deixá-las fechadas para sempre e nunca mais as abrir. Sabe bem estar assim. Fechar os olhos e não os voltar a abrir - mas não queria morrer. Ou queria?
Monday, 2 December 2013
Sunday, 1 December 2013
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