Self Portrait

Self Portrait

Friday 15 November 2013

Agradava-lhe saber o nome das estrelas. Perceber a forma como estas se organizavam, às escuras, no céu. À sua própria maneira. As mais tímidas escondiam-se na linha do horizonte, as mais brilhantes e fogosas guiavam-na. O Universo é um filme de terror. Quantas daquelas estrelas não estariam já mortas? E, no entanto, ali estava ela, deitada na relva a apreciar os defuntos.
A viagem prolongava-se há três dias. A fogueira, de um vermelho vivo, começava, lentamente, a apagar-se. Ao longe, entre as montanhas, o céu ia ganhando tons púrpura. O último dia chegara. Uma lágrima escorreu-lhe pela face deixando um rasto de mágoa para trás. Não queria olhar. Nunca se iria perdoar por aquilo.
- Liz...
- Não - esforçou-se por não chorar.
- Ouve. Segue-me. Não podes ficar aqui. Eles vão voltar, quando o sol rasgar o horiz...
- Não! Deixa-me - apercebeu-se que falava demasiado alto e baixou o tom, quase para um sussurro. - Esquece-me. - E fechou os olhos.

7 comments:

  1. A Fantasia é um Mundo solitário. Há momentos em que o sentimos mais que outros. É um momento triste, sim, quando nos apercebemos presos a ele e não conseguimos nem queremos escapar. É a fuga de um Mundo que não compreendemos para outro que criamos. Inspiramo-nos nele para sobreviver. Não podia ser perfeito, mas sentimo-lo essencial.
    Há alturas em que começamos a escrever baseando-nos nele, e no que admiramos nele, e quem o cria. És o meu pequeno George, sem brincar com tartarugas.
    Um dia li pelas tuas palavras que me agradecias ter-te introduzido a este Mundo. Aí resplandeci. Nunca pensei que alguém me agradecesse, ou compreendesse. O que não soubeste foi que quem agradeceu verdadeiramente fui eu. Já não estou sozinha no meu Mundo fantástico.
    És a melhor "aluna" que alguma vez tive.
    Obrigada
    Ellen Síla Lúmen'omentielvo

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    1. Não penso que seja solitário. Solitários somos nós, almas presas. A Fantasia liberta-nos, não fisicamente, como desejava, mas de uma maneira que só quem já o sentiu sabe explicar. Não há limites nem para o nosso próprio ser, perdemo-nos no mundo, perdemo-nos em nós. E é aí que está a beleza.
      Não poderia cansar-me de te agradecer. Não voltarás a estar sozinha.

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  2. É bonito. É tão livre, tão vasto, que te perdes. Perdes-te e vês escuro e luz ao mesmo tempo e segues os dois, porque vão pelo mesmo caminho. Estás presa, porque queres, mas estás presa. E a sensação de liberdade não é a liberdade. Volta ao Mundo real, consegues?

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  3. Chegamos a um ponto em que nos envolvemos de tal modo que, de alguma forma, aquilo se torna real para nós. Não o vemos fisicamente, é certo, mas quando estamos tristes, ou contentes, sabemos que não é fingido, certo? Aquilo que sentimos é real e, no entanto, não palpável. A Fantasia é real. Tens só de ter coragem suficiente para a aceitar assim - intocável.

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  4. "A Fantasia é real. Tens só de ter coragem suficiente para a aceitar assim - intocável."
    Estás pronta para ler o mestre que nos deixou esta herança. Não tenho nada mais a ensinar-te. Espero que um dia o Mundo compreenda aquilo de eu e tu não duvidamos.

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  5. És realmente um achado. Obrigado pelos minutos que me proporcionaste com as palavras que aqui vertes... lendo-te de um só fôlego.
    E sim, por muito que privilegie o Real, a Fantasia é um portal para varrermos o mundano que nos distrai e definha... nem que seja apenas por breves instantes.

    Beijo enorme.

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    1. És realmente belo, e se tivesse facas aqui rasgava um sorriso ainda maior no meu rosto por saber que me concedeste uma respiração! É mais do que eu alguma vez poderia pedir a alguém.
      Ultimamente tenho sentido mais dificuldade em compreender o real, sabes? Pudesse eu viver sempre noutros mundos... e tu, e todos, ao mesmo tempo, juntos e em lugares diferentes

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