Self Portrait

Self Portrait

Wednesday 4 December 2013

A velha que morava na casa em frente olhava-o, por entre as velhas e gastas cortinas de renda brancas, fingindo não estar a ver. Na sua mente, atirava-lhe constantemente pedras ao vidro, para a afugentar. Não se importava com o que os outros pensavam dele, mas o olhar daquela mulher perturbava-o particularmente.
No topo da garagem, havia horas que observava a passagem dos moradores e visitantes pela rua. A maioria não reparava nele, e os que reparavam, rapidamente desviavam a cara quando os olhares se cruzavam. Comportamentos estranhos não eram admitidos naquela aldeia, mesmo vindos de uma criança. Falar sozinho era mau, se brincava com pessoas imaginárias devia, certamente, estar para morrer.
Guardou os binóculos ferrugentos na mochila - estava farto da monotonia daquele lugar. Conhecia cada falha dos muros e cada ramo das árvores. A hora exata a que passava o carteiro e como este se atrasava sempre às segundas de manhã. (...)


2 comments:

  1. Por mais que a monotonia magoe o seu total conhecimento deixa saudade. Às vezes gostava de te observar pelas falhas no tecido e ver como reagirias.

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    1. Escrevia um poema no joelho e depois enviava-to num avião de papel

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I'm empty, next to a body that doesn't move. Fill me with words. I love you.